Novamente, alguns meses sem atualização, mas voltamos. De saída, gostei muito dessa de escrever o último texto de forma mais leve, mais genérica; vocês comentaram mais, participaram mais, fizeram o bolo crescer. O mais legal é que foram tantas ambiguidades deixadas no ar que dá pra ir destrinhcando em vários pedaços. Mas tudo tem que ter limite, pra não virar academicismo chato de novo. Até porque, “se me explico, me implico...”
[Parêntese enorme: os comentários a seguir não são direcionadas a ninguém especificamente e menos ainda estão intencionados para ‘diminiur’ alguém ou algo que o valha. Estou pegando os comentários feitos e utilizando-os genericamente, caricaturalmente para continuarmos – ou tentarmos continuar – a reflexão. Continuem comentando: é realmente importante!]
A tônica da maior parte dos comentários foi o individualismo. “Ah, é tanto individualismo que até o pensamento guardamos para nós mesmos”. O curioso é que foram ‘críticas’ ao individualismo feitas a partir do individualismo. Deixa eu tentar melhorar: só quem está dentro de alguma maneira desse individualismo pode mesmo achar que o pensamento é [ou pode mesmo ser] coisa ‘individual’. O que está sendo discutido aqui sob o nome ‘pensamento’ é algo um pouco maior do que nossas próprias elucubrações individuais (“vou ou não vou?”, “quero ou não quero?”, “dane-se, isso é problema meu” etc.) — ... por pensamento pretendemos discutir a possibilidade do pensamento, o fundamento do pensamento, isto é: história, povo, linguagem, ser. É uma questão de proveniência: de onde ganhamos nossas possibilidades? É claro que este individualismo é o primeiro modo pelo qual concebemos pensamento: desde Descartes identificamos a realidade com o que está na nossa cabeça – jurando que o ‘certo’ é o que está na nossa cabeça. E sempre que o mundo nos ‘decepciona’ voltamos mais e mais para dentro, até explodirmos em alguma depressão, stress ou qualquer treco desses. Minha questão aqui é inverter o individualismo perguntando: e de onde vem toda essa porcaria que tá na sua cabeça, hein? Get it? ;)
Outra coisa bacana que apareceu nos comentários foi o lance da utilidade/necessidade do pensamento. Esta questão só ganha seu sentido quando compreendemos o pensamento como ‘maquinação cerebral’ — novamente: pensamento aqui é o nosso modo de ser sempre. Todo e qualquer povo histórico, se era feito de gente, possuía produção intelectual, artística e etc. ‘Pensamento’ é a casa que moramos, a língua que falamos, a comida que comemos. Não somos como os bichos: todas as nossas atividades vêm acompanhadas do sentido que lhes damos. E não ‘damos’ sentido porque queremos ou escolhemos – somos assim: nos relacionamos com a realidade significando-a. Portanto, na minha opinião a coisa ficou simples: pensar é simplesmente [vir-a-]ser o que a gente é. Não pensar é virar escravo do moinho do capital: é virar número. Pensar não como apenas raciocínios complexíssimos neste blog que quase ninguém lê: NÃO. Pensar é escrever, ler, amar, produzir arte, construiur nossas vidas. Não pensar é achar que isso tudo nasceu pronto e que a gente não pode nunca fazer nada. Que ‘produção cultural’ é coisa de ‘elite’.
Falou-se também da ‘popularização’ da Filosofia. Aí entraram outros elementos. O mais grave é a identificação entre filosofia e pensamento. Quem está me acompanhando até agora já deve ter percebido que não concordo. Filosofia é um modo muito particular de acontecer o pensamento, e admitamos, um modo que parece ter um brilho especial. Mas é só. O pintor, o músico, o arquiteto, o engenheiro: todos podem ser pensadores. Todos podem ser ‘filósofos’ no sentido literal [e clichê] do termo: gente que gosta de pensar. E a ‘popularização’ é uma categoria que se irradia a partir de um lógica mercantil — este item, filosofia, pode ser ‘popularizado’, isto é, super-exposto de modo que consigamos ganhar alguma coi$a com isso? Eis a lógica da popularização.
Tá certo. Se tem alguém aí avidamente me acompanhando, já deve estar aborrecido querendo saber então que diabos eu compreendo por filosofia? Duas compreensões são cotidianamente e coerentemente possíveis:
a) Filosofia são as doutrinas, os conceitos, os pensamentos deixados escritos pelos caras que a história chamou de filósofos. Se é isso, aí sim: dá pra falar em Faculdade de Filosofia, em popularização da filosofia, etc, etc. É possível poder falar sobre a noção de ‘idéia’ em Platão, de ‘substância” em Aristóteles, de “vontade” em Nietzsche, etc. E pra isso vocês podem se poupar e comprar uns dois daqueles manuais de história da filosofia e pronto. Os esquemas estão prontinhos.
b) Filosofia é esse modo particular de pensar que podemos ‘aprender’ – ou talvez exercitar – pensando a partir dos textos dos caras. Pensando com os caras.
Filosofia que mereça esse nome e com letra maiúscula é, pra mim, uma ‘síntese’ entre essas duas compreensões. Não é necessário ser o expert em toda a história das idéias, mas é preciso conhecer algumas coisas pra se ‘entrar’ na filosofia. Mas não estou afirmando, repito, que a filosofia seja ‘a salvação’, a panacéia de qualquer coisa. Não.
O pensamento sim, é o caminho que considero possível. A filosofia é um modo através do qual eu me relaciono com o pensamento, assim como a música. É uma questão de que vocês tenham possibilidade de encontrar e assumir os seus modos de realização do pensamento. Eu realmente acredito nisso. Até a próxima porque já tá muito grande - mas ainda faltam algumas coisinhas.
[Parêntese enorme: os comentários a seguir não são direcionadas a ninguém especificamente e menos ainda estão intencionados para ‘diminiur’ alguém ou algo que o valha. Estou pegando os comentários feitos e utilizando-os genericamente, caricaturalmente para continuarmos – ou tentarmos continuar – a reflexão. Continuem comentando: é realmente importante!]
A tônica da maior parte dos comentários foi o individualismo. “Ah, é tanto individualismo que até o pensamento guardamos para nós mesmos”. O curioso é que foram ‘críticas’ ao individualismo feitas a partir do individualismo. Deixa eu tentar melhorar: só quem está dentro de alguma maneira desse individualismo pode mesmo achar que o pensamento é [ou pode mesmo ser] coisa ‘individual’. O que está sendo discutido aqui sob o nome ‘pensamento’ é algo um pouco maior do que nossas próprias elucubrações individuais (“vou ou não vou?”, “quero ou não quero?”, “dane-se, isso é problema meu” etc.) — ... por pensamento pretendemos discutir a possibilidade do pensamento, o fundamento do pensamento, isto é: história, povo, linguagem, ser. É uma questão de proveniência: de onde ganhamos nossas possibilidades? É claro que este individualismo é o primeiro modo pelo qual concebemos pensamento: desde Descartes identificamos a realidade com o que está na nossa cabeça – jurando que o ‘certo’ é o que está na nossa cabeça. E sempre que o mundo nos ‘decepciona’ voltamos mais e mais para dentro, até explodirmos em alguma depressão, stress ou qualquer treco desses. Minha questão aqui é inverter o individualismo perguntando: e de onde vem toda essa porcaria que tá na sua cabeça, hein? Get it? ;)
Outra coisa bacana que apareceu nos comentários foi o lance da utilidade/necessidade do pensamento. Esta questão só ganha seu sentido quando compreendemos o pensamento como ‘maquinação cerebral’ — novamente: pensamento aqui é o nosso modo de ser sempre. Todo e qualquer povo histórico, se era feito de gente, possuía produção intelectual, artística e etc. ‘Pensamento’ é a casa que moramos, a língua que falamos, a comida que comemos. Não somos como os bichos: todas as nossas atividades vêm acompanhadas do sentido que lhes damos. E não ‘damos’ sentido porque queremos ou escolhemos – somos assim: nos relacionamos com a realidade significando-a. Portanto, na minha opinião a coisa ficou simples: pensar é simplesmente [vir-a-]ser o que a gente é. Não pensar é virar escravo do moinho do capital: é virar número. Pensar não como apenas raciocínios complexíssimos neste blog que quase ninguém lê: NÃO. Pensar é escrever, ler, amar, produzir arte, construiur nossas vidas. Não pensar é achar que isso tudo nasceu pronto e que a gente não pode nunca fazer nada. Que ‘produção cultural’ é coisa de ‘elite’.
Falou-se também da ‘popularização’ da Filosofia. Aí entraram outros elementos. O mais grave é a identificação entre filosofia e pensamento. Quem está me acompanhando até agora já deve ter percebido que não concordo. Filosofia é um modo muito particular de acontecer o pensamento, e admitamos, um modo que parece ter um brilho especial. Mas é só. O pintor, o músico, o arquiteto, o engenheiro: todos podem ser pensadores. Todos podem ser ‘filósofos’ no sentido literal [e clichê] do termo: gente que gosta de pensar. E a ‘popularização’ é uma categoria que se irradia a partir de um lógica mercantil — este item, filosofia, pode ser ‘popularizado’, isto é, super-exposto de modo que consigamos ganhar alguma coi$a com isso? Eis a lógica da popularização.
Tá certo. Se tem alguém aí avidamente me acompanhando, já deve estar aborrecido querendo saber então que diabos eu compreendo por filosofia? Duas compreensões são cotidianamente e coerentemente possíveis:
a) Filosofia são as doutrinas, os conceitos, os pensamentos deixados escritos pelos caras que a história chamou de filósofos. Se é isso, aí sim: dá pra falar em Faculdade de Filosofia, em popularização da filosofia, etc, etc. É possível poder falar sobre a noção de ‘idéia’ em Platão, de ‘substância” em Aristóteles, de “vontade” em Nietzsche, etc. E pra isso vocês podem se poupar e comprar uns dois daqueles manuais de história da filosofia e pronto. Os esquemas estão prontinhos.
b) Filosofia é esse modo particular de pensar que podemos ‘aprender’ – ou talvez exercitar – pensando a partir dos textos dos caras. Pensando com os caras.
Filosofia que mereça esse nome e com letra maiúscula é, pra mim, uma ‘síntese’ entre essas duas compreensões. Não é necessário ser o expert em toda a história das idéias, mas é preciso conhecer algumas coisas pra se ‘entrar’ na filosofia. Mas não estou afirmando, repito, que a filosofia seja ‘a salvação’, a panacéia de qualquer coisa. Não.
O pensamento sim, é o caminho que considero possível. A filosofia é um modo através do qual eu me relaciono com o pensamento, assim como a música. É uma questão de que vocês tenham possibilidade de encontrar e assumir os seus modos de realização do pensamento. Eu realmente acredito nisso. Até a próxima porque já tá muito grande - mas ainda faltam algumas coisinhas.
2 comentários:
E como articular o "pensamento" a partir do individualismo? Quer dizer, somos individualistas. Ponto. A partir daí, que saída temos?
Teria relação com o pensamento individualista a questão da superpopulação?
E quanto à "classe dominante" (leia-se alguns grandes banqueiros e chefes de estado), que impõe sua ideologia numa estratégia extremamente bem articulada, que armas temos contra eles (seja através da Filosofia ou de qualquer outra manifestação do pensamento?)
Todas essas são questões que me ocorrem.
Legal Leo,
Quase nada a acrescentar, a não ser o fato de que tem muita gente por aí pegando pensamentos pré-concebidos e usando algumas fórmulinhas do tipo,se isso é mal e fulano gosta disso logo fulano é malvado ou se quem gosta disso é inteligente logo se eu gostar disso também serei inteligente,e achando que está pensando, quando na verdade o cérebro ao invés de racocínar, de buscar uma saída para a angústia que é viver o caminho inevitável para a morte, está apenas repetindo fórmulas pré concebidas de raciocínio. E se achando muito inteligente...
Um abraço e perdão por eu não voltar aqui mais vezes...
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