quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Eu é que estou de OlhO.

Às vezes fico perplexo com a cara-de-pau dos ‘dominantes’. Ou fico me perguntando se sou eu quem vê chifres na cabeça de cavalo, como diz o ditado. O tema de hoje é o olhar. O que gostamos de olhar, até onde alcançamos ver, e os fetiches pertinentes. Ta legal. Vou abrir o jogo.

A – A pseudo-concepção política dos meios de comunicação

“Nós estamos de olho”. Todo mundo já foi assediado por esse comercial ridículo, se até eu que me esforço por me manter longe da TV já fui. E dizem que os “nossos políticos somos nós lá”. Primeira falácia: possuímos um real poder de intervenção na vida política do país. É óbvio que eu sei que não há um parlamentar neste país ‘democrático’ que não tenha sido eleito pelo voto direto. O difícil de engolir é que depois de eleito os eleitores são os responsáveis pelo teor ético de suas atitudes. Podemos analisar o passado, a carreira política e os projetos dos candidatos. Votamos nisso. Ou melhor, deveríamos votar nisso. E cobrar, na medida do possível – que é bem pequena, diga-se de passagem – o alinhamento da conduta com as ‘promessas de campanha’.
Mas o real mesmo é que o Brasil vota em tudo menos no político: vota no bonitão, no mais articulado, no que ‘vence’ o debate. Aliás, “vencer” é tomado no sentido mais futebolístico possível: muitas pessoas não podem ‘perder o voto’, por isso, o que pega é votar no líder das [tendenciosas] pesquisas. Mas o tema hoje não é a democracia, sei que vão me cobrar uma reflexão de verdade, mas só queria acenar para o comercial para que ele me levasse para onde realmente gostaria de ir:

B – De olho no BBB

Pois é. Eu acho extremamente oportunista a veiculação de um “nós estamos de olho” exatamente durante a veiculação do BBB. Afinal, “tá todo mundo de olho no BBB”. A utilização dos subterfúgios subliminares deixou de ser ‘sub’ para ser ‘super’. É PRATICAMENTE O MESMO SLOGAN! A transformação de toda a realidade – agora exemplificada paradigmaticamente na política – em item de consumo nas prateleiras continua firme e forte. Fique de olho na política da mesma maneira que fica de olho no BBB: assistindo a Globo, gastando seu tempo e seu dinheiro votando, intervindo, interagindo, como gostam os moderninhos. E lembre-se, você não pode perder. É impossível não lembrar de 1984, donde roubaram o nome Grande Irmão: mantêm-se um certo estado de sonolência coletiva, e cuidado com as teletelas. Cada vez mais as pessoas vivem de experiências de segunda mão. Não se apaixonam, porque suas personagens das novelas se apaixonam e se dão mal. Para quem se lembra da reflexão sobre o ideal de formação, olhem para o papel exercido pelas novelas na manutenção da formação da moral de rebanho. Cada vez menos se preocupam política, porquê a imprensa já está preocupadíssima e, o melhor, veiculando seus resultados em tempo ‘real’. Ou melhor, tempo em reai$. Tudo já está pronto, feito, dado. E o pior é que até a memória é cada dia menor. Afinal, já houve veiculação de novela com o nome de Bang bang em época de plebiscito sobre comercialização de armas de fogo.... Hic Rhodus, Hic salta!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Qual nudez será castigada?

Estava – ainda estou, mas escolhas precisam ser feitas – sem conseguir escolher qual título para mais este texto. O concorrente era “Da Estética da Globelezação Brasileira” – afinal estamos em ‘época de carnaval’. O ponto é que incomodaram-me bastante o tipo de repercussão e comentários sobre o episódio “strip por seiscentos reais – não pagos – no baile funk”.
Não que eu vá ‘aprovar’ ou mesmo ‘desaprovar’ a atitude da jovem aspirante a stripper. Prefiro fazer alguns comentários conjunturais. Nossa grande e hipócrita sociedade, horrorizada com tal ‘desfrute’, desceu o sarrafo – para me expressar “no popular”. Comentários sobre o absurdo, o despautério e o descabimento da atitude da jovem vieram acompanhados de toda a pompa e circunstância econômico-moralista: afinal, trata-se do subúrbio, e as meninas pobres... bem, os pobres no Brasil são apenas os pobres.
Não obstante, algumas semanas depois chega o carnaval. E com ele, as propagandas no horário “nobre” com a belíssima (?) Globeleza nua, só “retocada” pseudo-artisiticamente. Essa nudez não é despropositada, descabida, absurda ou imoral. De forma alguma. Essa é a nudez, literalmente, para inglês ver. Esta nudez, acompanhada de muitas outras como destaques, ala das qualquer-coisa, atriz de TV soltando a franga e o diabo a quatro... bom, essa nudez é elogiada. Idolatrada. Adorada. Estimulada. RECOMENDADA. Nossos juízes estéticos, bem ao gosto do século XVII, se outorgam a autoridade de apontar: a bela nudez e a horrenda nudez. Proclamam-na, a bela, é óbvio, como representação mais-que-legítima da “Cultura Brasileira” – seja lá o que isso queira dizer. Zelam muito bem pela manutenção da imagem de pseudo-indígenas comedores de banana que gozamos mundo afora – desde, pelo menos, Carmem Miranda “representando” o Brasil com bananas na cabeça.
Temos a jovem do baile funk, que é mais uma entre outras jovens que frequentam bailes funks nas periferias. E todas elas, são Globelezadas todos os dias, pelas novelas, programas de humor e tudo mais que passar na programação geral para pobre ver. Afinal, sexo vende, e vende muito bem, obrigado. Os famosos podem. É o jeitinho capitalístico-brasileiro de funcionar: finge que dá com uma mão e bate – bem forte – com a outra.
Todos são iguais mas uns são mais iguais que os outros.