terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Então é Sacal. Até quando?

Então é Sacal, e o que você fez?
Salário termina, compras outra vez.
Então é Sacal, a festa paganDO.
Do velho e do novo, do labor como um porco.
Então, que Sacal! e o “ano novo” também.
Que Mcfeliz pra quem souber o que tem.
Então, que Sacal, pro inferno com o pão.
Pro rico e pro pobre, num mesmo cartão.
Então bom Natal, pro branco e pro negro.
Amarelo e vermelho, pra paz, Capital.


===================================================

Até quando
Indiferentes 364 por ano e amáveis em 1?
Até quando
Decoração com neve em pleno verão?
Até quando
Décimo-terceiro pra voltar pro patrão?
Até quando
Presentinhos ao invés de educação?
Até quando
Gorro vermelho e nada de pão?
Até quando
Foto com o Papai Noel, desde que pagãoNDO?
Até quando
Luzes piscando em três vezes no cartão?

sábado, 8 de dezembro de 2007

Desobediência, Wylde?

** Esse(s) breve(s) texto(s) me foi encomendado por um ex-aluno. Atualmente cursando o primeiro período de Licenciatura em música, foi-lhe solicitado que 'entrevistasse' um professor de música e indagasse sobre arte, educação e educação musical. Desnecessário dizer que a magnitude da proposta excede o 'limite' vulgar de um trabalho de primeiro período. Então, perdoem-me pela 'sintetização' e a consequente superficialidade. Aqui vos mostro os trechos sobre educação e educação musical.**
**********************************************************************************
Educação é um tema extremamente complexo e escorregadio. Parece-nos que a noção originária de educação está diretamente ligada com a formação do homem como cidadão. A experiência que os gregos chamavam Paidéia – posteriormente traduzida por educação ou instrução pelos romanos – se constituía numa preparação completa do homem para ser membro de sua Polis. E isto incluía ginástica, música, matemática, filosofia, etc. Isso necessariamente era acompanhado pela pergunta ‘o que é o homem’ ou ‘qual a essência do homem’; como podemos ‘preparar’ alguém sem pressupor uma finalidade? Toda formação é, como o próprio nome nos mostra, dar uma certa forma, con-formar um certo ‘material’ a um certo fim. A finalidade do homem grego era ser cidadão da Polis; qual é a finalidade do homem contemporâneo? A história do processo civilizatório que chamamos “modernidade” traz uma profunda transformação desta noção de educação: primeiramente, mascarada sob a forma da erudição; educar-se é acumular conteúdos, saber “tudo de tudo”, se “especializar”, ter “informação”. Hoje podemos ver que conjuntamente a esse modelo educacional aparece sua face mais nefasta: ser especialista é ser “alguém que sabe muito de muito pouco” e que com isso se adequa perfeitamente como uma peça lubrificada à grande engrenagem da sociedade mundial do trabalho; em outras palavras, a ‘educação’, de maneira geral, deixou de se perguntar pelo ser do homem uma vez que a vida no mundo capitalista já tem um sentido claramente estabelecido: produção e acúmulo. “Educar” hoje é simplesmente dizer “adeque-se ou está fora [do mercado]”.
**********************************************************************************
Consideramos, corriqueiramente, que educação musical seja ‘ensinar’ os meios de se ‘fazer música’. Como se soubéssemos, naturalmente, o que sejam ensinar, música e ensinar música! Na nossa cultura tais meios seriam escalas, arpejos, encadeamentos, etc. Trata-se, em suma, de uma educação técnico-pragmática. O aluno aprende a ‘aplicar’ certas ‘ferramentas’ e com isso obtém os resultados esperados. Acrescente-se a isso algum repertório, visualização in loco do ‘funcionamento’ destas ferramentas e bingo: eis um músico ‘profissional’. Entretanto, essa lógica me parece muito semelhante a uma outra, a saber, a lógica da produção: um empregado que aplica tais conhecimentos técnico-práticos, obtém certos resultados e recebe um salário. Há que se perguntar se as noções de artista e de profissional podem (ou devem?) se equivaler. Do ponto de vista formal, não há dúvida que os elementos citados (escalas, arpejos, etc.) fazem parte de um certo aprendizado técnico da música. Tais conhecimentos, a ‘imitação’ dos mestres através do aprendizado de grandes obras contribuem para que o aluno alcance certas noções de como a música tem sido produzida ao longo da história de um determinado povo. Todavia, isto absolutamente não quer dizer que esta seja a única maneira possível do acontecimento da música. Se levarmos em consideração a dimensão artística como inserida na totalidade do ser homem, inserida no movimento de dar sentido à existência humana, é preciso um pouco mais. É preciso estimular a busca, a reflexão sobre o status da arte; é preciso mostrar que outras maneiras de se trabalhar o ‘material sonoro’ são possíveis. Para exemplificar e tentar clarificar esse ponto de vista: o nosso ouvido, ocidental, vem, há anos, sendo ‘treinado’ num certo modo de compreensão do fenômeno sonoro chamado sistema temperado; anos de busca, aprimoramento e investigação conduziram a história da arte no Ocidente a tal sistema. Isso marca o desenvolvimento histórico do ser de uma cultura, que não pode ser considerada nem superior nem inferior a nenhuma outra. Quando começaram as excursões à música oriental, com os Beatles por exemplo, em 1963 inserindo uma cítara (instrumento indiano que não se coaduna com o sistema temperado!) houve choque, estranhamento. Os verdadeiros artistas deleitaram-se; John Mclaughlin e sua Mahavishnu Orchestra, John Coltrane com seus quartos-de-ton e improvisos “atonais” no fim de sua curta vida e vários outros levaram adiante tais experimentos. Tudo isto para tentar mostra que ‘educação musical’ precisa ser mais que repetição de modelos, embora estes sejam necessários em certos casos, como 'trampolins'. Para dizer que a busca pela realização da arte como plenificação das potencialidades do humano-artista, que música é caminho e não chegada deveriam ser as pedras-de-toque de uma educação, talvez, mais do que musical e sim artística. Talvez, como disse o grande artista Oscar Wylde, “a desobediência seja a virtude original do homem”.