Lá se vão alguns meses desde a última atualização. Em parte, as obrigações práticas e contingenciais da vida concreta têm me ocupado muito; da outra parte, essa pergunta aí no título que tem me enchido a paciência. E também os últimos textos ficaram muito ‘acadêmicos’ e acho que muita a gente perdeu a paciência. Porque esse blog é um espaço onde eu tento ‘socializar’ a questão do pensamento – com todos os problemas que um projeto destes traz.
Pra quê pensar? De saída, me perguntei: quem lê esse blog? Porque essa simples pergunta é sustentada por outra mais fundamental: pra quem um ‘filósofo’ fala no Brasil? Se é que ele fala para alguém. Para o povo, sabemos, não é. Para a classe média, menos. Para a elite? Tenham a santa paciência. Falam para si mesmos. Falam para os auditórios das academias e é só. E são ouvidos pelos colegas-filósofos, alunos e alguns curiosos. Sei que está soando meio pessimista, mas a reflexão precisa ser feita.
Por que o ‘filósofo brasileiro’ não fala para o povo? Porque o povo é ignorante e não entende a língua dele, que é muito complexa e completamente diferente da língua que o povo fala. Filósofo que é filósofo não pega ônibus, não compra pão, não fala palavrão e não torce pro Flamengo. Filósofo é importante demais, não pode ser gente. Tirando um pouquinho do escárnio: como falar a língua do Brasil? O pensamento acontece na língua, portanto, como bem viu um João Guimarães Rosa da vida, há pensamento na língua do povo.
Por que o ‘filósofo brasileiro’ não fala para a classe média? De saída, já temos problemas com essa categoria “média”. Assumindo que por classe média pensamos aquele que conseguem pagar as contas, comer e às vezes fazer uma viagenzinha pro interior pra ver os pais, bom, eles também não querem nem saber de pensamento. Se pararem pra pensar, perdem a hora de chegar ao trabalho, não pagam a escola dos filhos, a TV a cabo e a internet. O conhecimento que precisam já aprenderam: são profissionais. São técnico-práticos e tudo está resolvido. Votam nulo quando pretendem ter consciência política e seus verdadeiros gurus e mestres são os publicitários. Mas há de haver um pensamento aí nessa práxis e o nosso filósofo tupiniquim não o encontrou ainda. Pelo menos ao que parece.
Por que o ‘filósofo brasileiro’ não fala para a elite? Estes têm algo em comum: falam sozinhos. Os filósofos verborrágicos falam consigo mesmos por vaidade e por saberem que só eles são capazes de entender (?) o que eles dizem. A elite só fala e ouve, isto é, se comunica, entre si. Mas obviamente, apenas para manter essa concatenação de elementos que funciona tão bem para ela. Já dizia Darcy Ribeiro, o Brasil possui o sistema de prosperidade perfeita para quem está na parte de cima do bolo social. Eles, definitivamente, não precisam pensar. Só precisam ter. Santa propriedade, amém.
[Que estas caricaturas deixem as perguntas soarem. Eu volto com este mesmo tema.]
10 comentários:
grande Léo!
http://www.fezesfalantes.blogspot.com
Boa questão. Como vai se falar de filosofia pro brasileiro.
Já tentaram popularizar a coisa, mas parece que, como tudo no país, acabou caindo no modismo.
Tu tá com uma batata quente na mão, amigo. mostrar que a filosofia não é esse bicho de sete cabeças.
Eu mesma sou uma que tá aqui pra aprender.
Achei estas as tuas "melhores" reflexões, mermão.
ps: por "melhores" entenda "se encaixando com o que eu penso" heheh
Abraço, mermão!
"Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?"
(Carlos Drummond de Andrade)
Estamos bem longe de conceber o que significa 'ser brasileiro'. Para completar, poucos levam a categoria 'povo histórico' a sério.
Um abraço, irmão.
Mesmo pessimista, eu concordo com seu ponto de vista.
A verdade é que vivemos na era da individualidade onde até o pensamento guardamos para nós mesmos.
É triste, mas é verdade.
Abraço, Léo!
É um ponto de vista que respeito e que me persegue, embora eu não seja filósof.
Talvez, o filósofo fale para o futuro ou para o cosmos.
Por coincidencia,acabei de escrever uma pequena poesia(o que é poesia?) em que abordo esta mesma questão.Chama-se LEVE, quando der passa lá.
Isso é que é sintonia!!!
Talvez porque só fala de pensamentos que estão longe da realidade do Brasil, talvez porque hoje o que se preze é apenas o utilitarismo seguido de remuneração. Acho que a filosofia no Brasil não é feita para ser socializada, é algo meu e só para mim sacou?....não sei.......
rapaz não deu pra comentar, tive que escrever; ou melhor dar uma desabafada tb. Dá uma olhada lá no blog.
Abração
ps. já lí quase tudo, mas tô precisando dar uma olhada no texto 'em si' do marx auhauhahu pra ter certeza se posso te ajudar em alguma coisa; tipo, te dar alguma sugestão que possa contribuir de verdade.
Só digo que até agora tá foda!
Como disse alguém um pouco antes: vivemos numa sociedade individualista, até nossos pensamentos acabam sendo direcionados para nós mesmos.
As pessoas, muitas vezes, nem se importam. Para que filosofar se eu posso estar comprando? Ou, talvez, me fazendo de vítima, 'oh mundo cruel'. O que é filosofar? Que diabos isso vai mudar na minha vida? Na minha realidade?
Dos que pensam assim, eu só sinto pena.
É triste ver como as coisas (não) caminham.
Player versus player... como num grande jogo.
Você "não precisa" de sabedoria para (sobre)viver nele.
Curiosidade é uma enorme perda de tempo.
O que possuir maior "poder", vence.
E as vozes dos curiosos, dos filósofos, dos sábios... acabam ouvidas somente entre eles. Né?
Nossa, perdi minha linha de raciocinio (mas vou deixar escrito tudo isso ae mesmo assim), viajei em mil coisas aqui... heausesehsesa
Eu não sei a autoria do texto do meu blog. Minha mãe recebeu por email, eu li, gostei e postei. :P
Realmente é MUITO exagerado. Mas, eu achei divertido. HEAUESAUHESA
Beijo Leozinho! Saudades D:
Lendo este texto, vejo a imagem do cara na ilha deserta que envia mensagens em garrafas. Mensagens realmente importantes, que valem a pena serem lidas. Quem as responder, serão as pessoas que ousaram pensar a respeito. Agora se são povão, médios ou elite, não sei responder. Devem ser brasileiros que estão nos tons de cinza, ou nos trastes, das categorias acima. See ya!
Postar um comentário