sábado, 20 de setembro de 2008

Pensar? Pra quê?

Lá se vão alguns meses desde a última atualização. Em parte, as obrigações práticas e contingenciais da vida concreta têm me ocupado muito; da outra parte, essa pergunta aí no título que tem me enchido a paciência. E também os últimos textos ficaram muito ‘acadêmicos’ e acho que muita a gente perdeu a paciência. Porque esse blog é um espaço onde eu tento ‘socializar’ a questão do pensamento – com todos os problemas que um projeto destes traz.

Pra quê pensar? De saída, me perguntei: quem lê esse blog? Porque essa simples pergunta é sustentada por outra mais fundamental: pra quem um ‘filósofo’ fala no Brasil? Se é que ele fala para alguém. Para o povo, sabemos, não é. Para a classe média, menos. Para a elite? Tenham a santa paciência. Falam para si mesmos. Falam para os auditórios das academias e é só. E são ouvidos pelos colegas-filósofos, alunos e alguns curiosos. Sei que está soando meio pessimista, mas a reflexão precisa ser feita.

Por que o ‘filósofo brasileiro’ não fala para o povo? Porque o povo é ignorante e não entende a língua dele, que é muito complexa e completamente diferente da língua que o povo fala. Filósofo que é filósofo não pega ônibus, não compra pão, não fala palavrão e não torce pro Flamengo. Filósofo é importante demais, não pode ser gente. Tirando um pouquinho do escárnio: como falar a língua do Brasil? O pensamento acontece na língua, portanto, como bem viu um João Guimarães Rosa da vida, há pensamento na língua do povo.

Por que o ‘filósofo brasileiro’ não fala para a classe média? De saída, já temos problemas com essa categoria “média”. Assumindo que por classe média pensamos aquele que conseguem pagar as contas, comer e às vezes fazer uma viagenzinha pro interior pra ver os pais, bom, eles também não querem nem saber de pensamento. Se pararem pra pensar, perdem a hora de chegar ao trabalho, não pagam a escola dos filhos, a TV a cabo e a internet. O conhecimento que precisam já aprenderam: são profissionais. São técnico-práticos e tudo está resolvido. Votam nulo quando pretendem ter consciência política e seus verdadeiros gurus e mestres são os publicitários. Mas há de haver um pensamento aí nessa práxis e o nosso filósofo tupiniquim não o encontrou ainda. Pelo menos ao que parece.

Por que o ‘filósofo brasileiro’ não fala para a elite? Estes têm algo em comum: falam sozinhos. Os filósofos verborrágicos falam consigo mesmos por vaidade e por saberem que só eles são capazes de entender (?) o que eles dizem. A elite só fala e ouve, isto é, se comunica, entre si. Mas obviamente, apenas para manter essa concatenação de elementos que funciona tão bem para ela. Já dizia Darcy Ribeiro, o Brasil possui o sistema de prosperidade perfeita para quem está na parte de cima do bolo social. Eles, definitivamente, não precisam pensar. Só precisam ter. Santa propriedade, amém.

[Que estas caricaturas deixem as perguntas soarem. Eu volto com este mesmo tema.]