[Parêntese enorme: os comentários a seguir não são direcionadas a ninguém especificamente e menos ainda estão intencionados para ‘diminiur’ alguém ou algo que o valha. Estou pegando os comentários feitos e utilizando-os genericamente, caricaturalmente para continuarmos – ou tentarmos continuar – a reflexão. Continuem comentando: é realmente importante!]
A tônica da maior parte dos comentários foi o individualismo. “Ah, é tanto individualismo que até o pensamento guardamos para nós mesmos”. O curioso é que foram ‘críticas’ ao individualismo feitas a partir do individualismo. Deixa eu tentar melhorar: só quem está dentro de alguma maneira desse individualismo pode mesmo achar que o pensamento é [ou pode mesmo ser] coisa ‘individual’. O que está sendo discutido aqui sob o nome ‘pensamento’ é algo um pouco maior do que nossas próprias elucubrações individuais (“vou ou não vou?”, “quero ou não quero?”, “dane-se, isso é problema meu” etc.) — ... por pensamento pretendemos discutir a possibilidade do pensamento, o fundamento do pensamento, isto é: história, povo, linguagem, ser. É uma questão de proveniência: de onde ganhamos nossas possibilidades? É claro que este individualismo é o primeiro modo pelo qual concebemos pensamento: desde Descartes identificamos a realidade com o que está na nossa cabeça – jurando que o ‘certo’ é o que está na nossa cabeça. E sempre que o mundo nos ‘decepciona’ voltamos mais e mais para dentro, até explodirmos em alguma depressão, stress ou qualquer treco desses. Minha questão aqui é inverter o individualismo perguntando: e de onde vem toda essa porcaria que tá na sua cabeça, hein? Get it? ;)
Outra coisa bacana que apareceu nos comentários foi o lance da utilidade/necessidade do pensamento. Esta questão só ganha seu sentido quando compreendemos o pensamento como ‘maquinação cerebral’ — novamente: pensamento aqui é o nosso modo de ser sempre. Todo e qualquer povo histórico, se era feito de gente, possuía produção intelectual, artística e etc. ‘Pensamento’ é a casa que moramos, a língua que falamos, a comida que comemos. Não somos como os bichos: todas as nossas atividades vêm acompanhadas do sentido que lhes damos. E não ‘damos’ sentido porque queremos ou escolhemos – somos assim: nos relacionamos com a realidade significando-a. Portanto, na minha opinião a coisa ficou simples: pensar é simplesmente [vir-a-]ser o que a gente é. Não pensar é virar escravo do moinho do capital: é virar número. Pensar não como apenas raciocínios complexíssimos neste blog que quase ninguém lê: NÃO. Pensar é escrever, ler, amar, produzir arte, construiur nossas vidas. Não pensar é achar que isso tudo nasceu pronto e que a gente não pode nunca fazer nada. Que ‘produção cultural’ é coisa de ‘elite’.
Falou-se também da ‘popularização’ da Filosofia. Aí entraram outros elementos. O mais grave é a identificação entre filosofia e pensamento. Quem está me acompanhando até agora já deve ter percebido que não concordo. Filosofia é um modo muito particular de acontecer o pensamento, e admitamos, um modo que parece ter um brilho especial. Mas é só. O pintor, o músico, o arquiteto, o engenheiro: todos podem ser pensadores. Todos podem ser ‘filósofos’ no sentido literal [e clichê] do termo: gente que gosta de pensar. E a ‘popularização’ é uma categoria que se irradia a partir de um lógica mercantil — este item, filosofia, pode ser ‘popularizado’, isto é, super-exposto de modo que consigamos ganhar alguma coi$a com isso? Eis a lógica da popularização.
Tá certo. Se tem alguém aí avidamente me acompanhando, já deve estar aborrecido querendo saber então que diabos eu compreendo por filosofia? Duas compreensões são cotidianamente e coerentemente possíveis:
a) Filosofia são as doutrinas, os conceitos, os pensamentos deixados escritos pelos caras que a história chamou de filósofos. Se é isso, aí sim: dá pra falar em Faculdade de Filosofia, em popularização da filosofia, etc, etc. É possível poder falar sobre a noção de ‘idéia’ em Platão, de ‘substância” em Aristóteles, de “vontade” em Nietzsche, etc. E pra isso vocês podem se poupar e comprar uns dois daqueles manuais de história da filosofia e pronto. Os esquemas estão prontinhos.
b) Filosofia é esse modo particular de pensar que podemos ‘aprender’ – ou talvez exercitar – pensando a partir dos textos dos caras. Pensando com os caras.
Filosofia que mereça esse nome e com letra maiúscula é, pra mim, uma ‘síntese’ entre essas duas compreensões. Não é necessário ser o expert em toda a história das idéias, mas é preciso conhecer algumas coisas pra se ‘entrar’ na filosofia. Mas não estou afirmando, repito, que a filosofia seja ‘a salvação’, a panacéia de qualquer coisa. Não.
O pensamento sim, é o caminho que considero possível. A filosofia é um modo através do qual eu me relaciono com o pensamento, assim como a música. É uma questão de que vocês tenham possibilidade de encontrar e assumir os seus modos de realização do pensamento. Eu realmente acredito nisso. Até a próxima porque já tá muito grande - mas ainda faltam algumas coisinhas.