Recentemente ouvi falar no mais novo MS... do país: o Movimento dos Sem Mídia. Não procurei informações profundas a respeito ainda, mas genericamente, é um movimento de insatisfação (que me parece ter-se tornado ONG) diante do monopólio das comunicações, de sua enorme influência na vida político-econômica do país, etc. Parece ser algo sério. Todavia, um trecho específico da entrevista que li me intrigou: “Nós estamos nos propondo a ir às universidades, sindicatos, toda organização, instituição, aonde for possível, porque nós somos sem mídia, então nós aceitamos qualquer mídia.”
Por que fiquei preocupado? Fiquei com uma enorme pulga atrás da orelha me perguntando “Qual o papel da mídia”? Ressalto de saída, para evitar mal-entendidos, que não estou aqui para apedrejar o MSM – que já confessei não conhecer profundamente. A notícia só serviu para desencadear essa breve reflexão; é só um exemplo. Retornando, o que me assusta é que parece que “todos querem um pedaço da torta”; se a mídia é o que rege nossas relações sociais, todos precisam de mídia. Proponho-me apenas a perguntar por que é que a mídia rege as relações? Que poder é esse e de onde ele vem?
O ideal de formar os cidadãos, algo que já foi visto como a tarefa mais elevada pelos gregos, a busca por uma excelência individual que culmine numa polis organizada pereceu. Educar virou sinônimo de IN-formar. E essa in-formação, que de INterior tem muito pouco, muito mais DE-forma e CON-forma. DE-forma as potencialidades individuais em nome de uma adequação às necessidades do Senhor Mercado e CON-forma persuadindo ser esta a melhor maneira possível, naturalizando-a. A naturalização de uma determinada conduta, de um certo modo de ser histórico é exatamente o momento da morte do pensamento.
Pois bem, o “poder da mídia” possui uma circularidade viciosa que espanta; retroage sobre si mesmo e sobre as pessoas ao modo de um Grande Irmão (1984, George Orwell) do qual não se tem notícia e nem certeza da existência. Esse “poder” é uma fetichização absurda de um ideal de “verdade empírica” oriundo da gênese da Modernidade: é preciso ver, tocar, apertar e medir todo o real. E se assim não for, não é verdade. Ora, se todos os meios de comunicação dizem algo sobre o que não podemos “experimentar por nós mesmos”, eis a verdade! Clara, imparcial e justa. Vale destacar que uma das últimas manifestações do arquétipo messiânico, o Superman, enquanto era só man, era jornalista.
A tal circularidade. Se outrora o controle se exercia explicitamente, dizendo ‘isto pode’, ‘isto não pode’, a mágica que hoje nos circunda faz parecer que podemos tudo. E podemos. Ao invés de sermos cegados somos ensurdecidos. Pode-se falar à vontade. A pergunta que fica é quem vai ouvir, como disse um amigo meu. Podemos ir à imprensa, somos ‘entrevistados’ por ela quando acontece algo a nossa volta. Então desabafamos, podemos ver todos os dias nos jornais: as filas dos hospitais, as greves, as manifestações, etc. Quem realmente ouve? Quem se engaja? Não se trata de pressupor uma espécie de teoria conspiratória, mas é essa a mágica que me intriga: a sensação de que há um Grande Irmão. Midiocracia é o governo da mediocridade. A pedagogia transmitida pelos ditos meios de comunicação naturaliza tudo. Tudo vale. Até vale tudo. Vale até a pena ver de novo. Que pena.
P.S.: ERRATA (?):
Explicilho Trocadando
Em relação ao texto anterior, recebi um comentário de um leitor anônimo (por isso não publicado) me ensinando que deveria ser “BOPE e não BOP”. Acontece que, infelizmente, com piadas e trocadilhos, qualquer iluminação intelectual estraga a magia. Trocadilho é algo que demanda certa dose de perspicácia, e conjuntamente senso de humor e uma dose de refinação. Mas se é pra estragar, vá lá:
TO BE: Verbo anglo-saxão = ser, estar.
BOP: Abreviação de Bebop, sugênero do jazz americano que surgiu no início da década de 1940 (key-words: Charlie Parker, Thelonius Monk, Kenny Clarke, Dizzy Gillespie.).
A brincadeira então seria mais ou menos a seguinte: quero ser Bop e não BOPE. (Be-bop, separado com hífen, lembra?) O desfecho do texto ainda dava uma dica: “Continuo mais interessado em trompetes que em metralhadoras. Eu quero é be-bop.”
Última vez que estrago a brincadeira, hein? Agora ele vai mandar: “Uai! Você não disse que a brincadeira acabou?”...
Por que fiquei preocupado? Fiquei com uma enorme pulga atrás da orelha me perguntando “Qual o papel da mídia”? Ressalto de saída, para evitar mal-entendidos, que não estou aqui para apedrejar o MSM – que já confessei não conhecer profundamente. A notícia só serviu para desencadear essa breve reflexão; é só um exemplo. Retornando, o que me assusta é que parece que “todos querem um pedaço da torta”; se a mídia é o que rege nossas relações sociais, todos precisam de mídia. Proponho-me apenas a perguntar por que é que a mídia rege as relações? Que poder é esse e de onde ele vem?
O ideal de formar os cidadãos, algo que já foi visto como a tarefa mais elevada pelos gregos, a busca por uma excelência individual que culmine numa polis organizada pereceu. Educar virou sinônimo de IN-formar. E essa in-formação, que de INterior tem muito pouco, muito mais DE-forma e CON-forma. DE-forma as potencialidades individuais em nome de uma adequação às necessidades do Senhor Mercado e CON-forma persuadindo ser esta a melhor maneira possível, naturalizando-a. A naturalização de uma determinada conduta, de um certo modo de ser histórico é exatamente o momento da morte do pensamento.
Pois bem, o “poder da mídia” possui uma circularidade viciosa que espanta; retroage sobre si mesmo e sobre as pessoas ao modo de um Grande Irmão (1984, George Orwell) do qual não se tem notícia e nem certeza da existência. Esse “poder” é uma fetichização absurda de um ideal de “verdade empírica” oriundo da gênese da Modernidade: é preciso ver, tocar, apertar e medir todo o real. E se assim não for, não é verdade. Ora, se todos os meios de comunicação dizem algo sobre o que não podemos “experimentar por nós mesmos”, eis a verdade! Clara, imparcial e justa. Vale destacar que uma das últimas manifestações do arquétipo messiânico, o Superman, enquanto era só man, era jornalista.
A tal circularidade. Se outrora o controle se exercia explicitamente, dizendo ‘isto pode’, ‘isto não pode’, a mágica que hoje nos circunda faz parecer que podemos tudo. E podemos. Ao invés de sermos cegados somos ensurdecidos. Pode-se falar à vontade. A pergunta que fica é quem vai ouvir, como disse um amigo meu. Podemos ir à imprensa, somos ‘entrevistados’ por ela quando acontece algo a nossa volta. Então desabafamos, podemos ver todos os dias nos jornais: as filas dos hospitais, as greves, as manifestações, etc. Quem realmente ouve? Quem se engaja? Não se trata de pressupor uma espécie de teoria conspiratória, mas é essa a mágica que me intriga: a sensação de que há um Grande Irmão. Midiocracia é o governo da mediocridade. A pedagogia transmitida pelos ditos meios de comunicação naturaliza tudo. Tudo vale. Até vale tudo. Vale até a pena ver de novo. Que pena.
P.S.: ERRATA (?):
Explicilho Trocadando
Em relação ao texto anterior, recebi um comentário de um leitor anônimo (por isso não publicado) me ensinando que deveria ser “BOPE e não BOP”. Acontece que, infelizmente, com piadas e trocadilhos, qualquer iluminação intelectual estraga a magia. Trocadilho é algo que demanda certa dose de perspicácia, e conjuntamente senso de humor e uma dose de refinação. Mas se é pra estragar, vá lá:
TO BE: Verbo anglo-saxão = ser, estar.
BOP: Abreviação de Bebop, sugênero do jazz americano que surgiu no início da década de 1940 (key-words: Charlie Parker, Thelonius Monk, Kenny Clarke, Dizzy Gillespie.).
A brincadeira então seria mais ou menos a seguinte: quero ser Bop e não BOPE. (Be-bop, separado com hífen, lembra?) O desfecho do texto ainda dava uma dica: “Continuo mais interessado em trompetes que em metralhadoras. Eu quero é be-bop.”
Última vez que estrago a brincadeira, hein? Agora ele vai mandar: “Uai! Você não disse que a brincadeira acabou?”...
2 comentários:
Muito bem, mai bróder...
A mídia é o sustentáculo desse "monstro sist" que metaforzeou-se durante toda a História humana(ou quase toda). Só nos meus pouco mais de trinta anos, já o vi chamar-se de capitalismo, globalização e neoliberalismo. Mas sempre com o apoio da tal mídia, que na verdade não existe, porque são os mesmos donos do poder falando em prol deles mesmos. Balzac já retratava todo esse nojo no século XVIII (ler "Ilusões Perdidas"). E se Platão na sua maravilhosa Repúlblica utópica via como o ponto alto da existencia , a sapiência daqueles que se ilustram, não foi por acaso que ele virou suas costas para a, hoje tão cultuada, democracia.
Enfim, travestida de liberdade essa máquina conduz os mesmos servos a massacrar suas potencialidades para satisfazer os anseios dos tais proprieotários. E sua grande aliada é a mídia desinformante e atordoante. A internet me parece uma forma de anarquia intelectual, mas precisa ser trabalhada...
A náusea não está mais só em mim, parece estar em tudo que olho e vejo...Sartre falou mais ou menos isso, eu concordo!!!
Sei lá, meo! Eu tenho uma paranóia conspiratória mesmo e até gosto!A tv digital chegou e quem me garante que não serão 'teletelas'? E os nossos computers também não são as ditacujas?Ninguém compra mais sem cartão! As câmeras estão por todo lugar nos vigiando...Não temos mais nomes, a numeração do CPF já basta! Hi tem uns caras esquisitos de terno preto chegando aqui, acho que falei demais melhor encerrar es mens...
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