A última febre – que já quase está se tornando ‘velha’ – nas conversas genéricas, programecos de TV e etc. é o filme “Tropa de Elite”. Várias frases de efeito e expressões utilizadas pelas personagens são repetidas a torto e a direito, além, é claro de, praticamente não se poder falar sem ouvir a pergunta “já assistiu ao [filme] Tropa de Elite?”
Vá lá, cinematograficamente falando, o filme é bem feito. Bem produzido, dirigido, uma boa fotografia, um roteiro que ‘pega’ e uma narrativa contrapontística pseudo-Tarantinesca (vide Pulp Fiction). Problemáticos são os comentários, interpretações, posições assumidas e juízos que se pretendem cabais sobre a violência que têm sido gerados a partir do fenômeno BOP. É sobre isso que estou interessado em conversar.
Primeiramente, a sensação de responsabilização individualista redundante do discurso dos integrantes do BOP. Explico melhor: fica um cheiro de uma ‘teoria da conspiração’, como se cada usuário de cannabis, ao acender um baseado, estivesse voluntariamente retirando uma criança da favela da escola ou matando um adolescente ‘aviãozinho’. Vejo um aspecto muito problemático na assunção descabida deste tipo de posicionamento: a ocultação da responsabilidade das instâncias governamentais, militares e ‘sociais’. A responsabilidade pela educação daquela criança que está fora da escola não é de um indivíduo singular. Também não o é a responsabilidade pelo adolescente que não possui perspectiva melhor que o tráfico. Isso sem contar também, no odor preconceituoso de que, criança e adolescente de favela são criminosos em potencial. Não estou, antes que concluam apressadamente, negando a existência de uma responsabilidade por parte dos ‘usuários’. Contudo, a questão precisa ser olhada por um enfoque muito mais radical; é preciso se perguntar pela legitimidade da proibição do consumo, isto é, a quem ela serve? É preciso se perguntar por armamentos que os traficantes possuem e que nem mesmo os policiais militares possuem, só o exército; é preciso saber se a manutenção deste ‘estado de sítio’ não está também a serviço de algum grupo. Tentando exemplificar: na época das últimas eleições, a Globo lançou uma campanha, indo de carona em algum escândalo de corrupção, que era do tipo “cuidado em quem você vota, o futuro do país está em suas mãos e bla bla bla”. Como se o eleitor passasse a ser responsável pelo conteúdo moral e ético das atitudes dos candidatos que escolhe! Oras, votamos a partir de propostas e de histórico político do candidato; se ele não as cumpre, há outro culpado que não ele mesmo?
Um amigo me refutou dizendo: “cara, é a visão de um policial. Está falando de um lado que ele vê.” Eu discordei e discordo: é a visão de um diretor de cinema. Mesmo se estivesse lendo a biografia, seria a visão de um biógrafo (ou sei lá como se chama aquele que compila um livro desta natureza). O que quero dizer é que, como obra de arte, um filme não pode passar por cima de seu papel político – e aqui uso político num sentido muito mais abrangente que apenas votos e parlamentares. As pessoas assistem a um filme como este e, infelizmente, já saem repetindo. Falta apenas reflexão. Que nesse nível mais imediato dos acontecimentos o Capitão Nascimento está certo eu concordo: ele está certo, é guerra mesmo. Que o papel da arte e das pessoas que com ela se relacionam seja ficar nessa imediaticidade superficial é a parte que eu discordo. Aquilo que aparece sempre aparece a partir de algum chão, e só digo que é preciso perguntar por ele, porque quando seus vôos perderem a graça, é pra ele que você volta. Continuo mais interessado em trompetes que em metralhadoras. Eu quero é be-bop.
Vá lá, cinematograficamente falando, o filme é bem feito. Bem produzido, dirigido, uma boa fotografia, um roteiro que ‘pega’ e uma narrativa contrapontística pseudo-Tarantinesca (vide Pulp Fiction). Problemáticos são os comentários, interpretações, posições assumidas e juízos que se pretendem cabais sobre a violência que têm sido gerados a partir do fenômeno BOP. É sobre isso que estou interessado em conversar.
Primeiramente, a sensação de responsabilização individualista redundante do discurso dos integrantes do BOP. Explico melhor: fica um cheiro de uma ‘teoria da conspiração’, como se cada usuário de cannabis, ao acender um baseado, estivesse voluntariamente retirando uma criança da favela da escola ou matando um adolescente ‘aviãozinho’. Vejo um aspecto muito problemático na assunção descabida deste tipo de posicionamento: a ocultação da responsabilidade das instâncias governamentais, militares e ‘sociais’. A responsabilidade pela educação daquela criança que está fora da escola não é de um indivíduo singular. Também não o é a responsabilidade pelo adolescente que não possui perspectiva melhor que o tráfico. Isso sem contar também, no odor preconceituoso de que, criança e adolescente de favela são criminosos em potencial. Não estou, antes que concluam apressadamente, negando a existência de uma responsabilidade por parte dos ‘usuários’. Contudo, a questão precisa ser olhada por um enfoque muito mais radical; é preciso se perguntar pela legitimidade da proibição do consumo, isto é, a quem ela serve? É preciso se perguntar por armamentos que os traficantes possuem e que nem mesmo os policiais militares possuem, só o exército; é preciso saber se a manutenção deste ‘estado de sítio’ não está também a serviço de algum grupo. Tentando exemplificar: na época das últimas eleições, a Globo lançou uma campanha, indo de carona em algum escândalo de corrupção, que era do tipo “cuidado em quem você vota, o futuro do país está em suas mãos e bla bla bla”. Como se o eleitor passasse a ser responsável pelo conteúdo moral e ético das atitudes dos candidatos que escolhe! Oras, votamos a partir de propostas e de histórico político do candidato; se ele não as cumpre, há outro culpado que não ele mesmo?
Um amigo me refutou dizendo: “cara, é a visão de um policial. Está falando de um lado que ele vê.” Eu discordei e discordo: é a visão de um diretor de cinema. Mesmo se estivesse lendo a biografia, seria a visão de um biógrafo (ou sei lá como se chama aquele que compila um livro desta natureza). O que quero dizer é que, como obra de arte, um filme não pode passar por cima de seu papel político – e aqui uso político num sentido muito mais abrangente que apenas votos e parlamentares. As pessoas assistem a um filme como este e, infelizmente, já saem repetindo. Falta apenas reflexão. Que nesse nível mais imediato dos acontecimentos o Capitão Nascimento está certo eu concordo: ele está certo, é guerra mesmo. Que o papel da arte e das pessoas que com ela se relacionam seja ficar nessa imediaticidade superficial é a parte que eu discordo. Aquilo que aparece sempre aparece a partir de algum chão, e só digo que é preciso perguntar por ele, porque quando seus vôos perderem a graça, é pra ele que você volta. Continuo mais interessado em trompetes que em metralhadoras. Eu quero é be-bop.
2 comentários:
Concordo com quase tudo,Léo.
Inclusive escrevi um texto parecido, que saiu em alguns jornais daqui e está no "mandando brasa", chamado "Humanos".
O filme é apenas a visão do diretor sobre determinado assunto. "Tropa de elite" cumpre um papel ao "desrobocopficar" a imagem do policial e mostrar o seu lado humano, tão humano que erra no alvo do idealismo. A guerra da polícia pode ser contra o tráfico,mas a da população, a do País, é outra. O nosso caos é originário da concentração de renda, do latifúndio e da ignorância que abrange todas as classes sem distinção.
Outro dia saí a caça de um Cd do Itamar Assumpção e rodei a cidade inteira sem encontrá-lo. Se procurasse cocaína, maconha, crack teria encontrado sem precisar rodar tanto. Portanto, o que está proibido? As drogas ou o Itamar(Assumpção)? A guerra é contra a drogas ou contra a cultura? N mais, prefiro o cool jazz...
A quem serve? Ao mercado, meu amigo, ao mercado! Hoje eu tava lendo a Exame, (sim eu leio a Exame!) e o grande potencial de venda para os conglomerados está na população de baixa renda. O mercado, esta entidade cheia de humores precisa entrar dentro das comunidades de baixa renda e o tráfico atrapalha...Bingo! O BOPE entra!!!!!!!!
Ps: Respondendo ao xará aí de cima, eu encontrei um cd do Itamar Assumpcao no Juwilmar Discos em Carapina -Serra (o Léo conhece a loja)! Quase levei confundindo com Nico Asssumpcao tsctsc
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